Fênix

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UM DOS MAIS ENIGMÁTICOS ARTISTAS DO CANTO POPULAR NO BRASIL

Por Jefferson Cruz
Foto Divulgação
Design Fotos: Sidney Rocharte


Ao lado metafórico da mitologia grega, o cantor e compositor Fênix é radicado na mesma simbologia da ave lendária que renasce das próprias cinzas, o que traduzindo é uma definição primordial do seu diferencial: Renascer a cada nova interpretação e composição. Fênix descende da nobre linhagem de intérpretes de voz andrógina, um timbre vocal pecualiaríssimo, quase um castratti renascentista. Quando jovem, o recifense foi influenciado por Luiz Gonzaga, de quem herdou a paixão pelos ritmos nordestinos. Ele dosa os tons com exemplar domínio da técnica do canto, desenvolvida no conservatório de música de Recife (PE), a cidade-capital de Pernambuco que abrigou o artista até 1994, de onde ele partiu logo depois da adolescência, para tornar-se um cidadão do mundo.

Fênix fez teatro no Rio e em São Paulo, alem de circuito de shows, antes de agendar, no Rio, uma apresentação que lhe valeria um vitorioso teste para o musical “Os Quatro Carreirinhas”, dirigido por Wolf Maia. Foi durante a temporada do espetáculo que o cantor chamou a atenção do grande público com sua voz “marfim”, tal como o título de um de seus álbuns. Poeticamente trata-se de uma voz refinada de timbre feminino, mas paradoxalmente viril e resistente.

Cada vez mais global e cosmopolita, circulando entre Recife e Rio de Janeiro, Fênix se permitiu passar também uma temporada em Nova York (EUA), bem no centro da ebulição cultural, onde conheceu Gerald Thomas, vindo a trabalhar com o conceituado diretor de teatro na montagem de O Cão Andaluz, espetáculo inspirado na obra do poeta espanhol Garcia Lorca (1898 – 1936). A encenação percorreu São Paulo em 1998, dois anos depois de a voz de Fênix ter sido o principal destaque do musical Os Quatro Carreirinhas.

Em 2001, retornou ao Brasil para gravar sua estréia, ou mais uma renascença, com o primeiro disco Eu, causa e efeito, com produção do maestro Jaime Alem (o mesmo de Maria Bethânia) e participações de Ney Matogrosso, e composições inéditas de Zeca Baleiro. Na faixa autoral Zapping, Fênix sentenciou num verso “Já sou capaz de cantar as minhas verdades”.

Em 2003, lançou seu segundo trabalho, “Marfim”, no qual regrava Caetano Veloso e Lulu Santos, além de contar com a participação do saxofonista Léo Gandelman. Neste segundo disco ele nos apresenta um repertório mais pop e moderno.

E agora, Fênix voa alto com seu primeiro CD ao vivo, Cirando do Mundo, um trabalho que sintetiza, com total liberdade, uma história de vida tão rica e variada, sempre na tênue fronteira entre música e teatro, quanto os matizes de sua voz privilegiada. E, em qualquer tom, sempre verdadeira. Não por acaso também, o show que originou o disco se chama Ciranda do Mundo, pegando emprestado o nome da música de Edu Krieger que figura no repertório multifacetado. , e foi realizado em 18 de novembro de 2008 no Teatro Baden Powell, no Rio de Janeiro (RJ), com as participações especialíssimas de Silvia Machete e Zé Ramalho.



O CD mistura no repertório temas autorais do artista com músicas de Ary Barroso, Beto Guedes, Byafra, Caetano Veloso, Lula Queiroga e Marisa Monte. Mixado (por Renato Alscher, no estúdio carioca Corredor 5) e masterizado (por Carlos Freitas, no paulista Classic Máster) na pressão, com produção assinada por Fênix em parceria com o violonista João Gaspar (autor de todos os vigorosos arranjos), o CD Fênix Ciranda do Mundo ao Vivo mantém o pique ao longo de suas 14 faixas.

Jefferson Cruz (JC)- Como você explica essa liberdade de transformar consagradas canções para um estilo próprio?

Fênix - Vim de uma determinada escola de canto e bebi e ainda bebo em diversas fontes. De fato no canto popular do Brasil nós somos muito únicos qto a autenticidade de nossos artistas. Não saberia não fazer do meu jeito. Para o trabalho de um interprete/cantor é importante acrescentarmos nossa visão ao interpretarmos uma determinada canção.

(JC)- Qual sua observação sobre a causa e o efeito de ser um artista de sucesso?

Fênix - Acho que o sucesso é resultado de vários fatores : disciplina, perseverança, unicidade, talento, sorte, oportunidade...querer estar.

(JC)- Quais as causas e efeitos que você busca alcançar em sua carreira?

Fênix - Tenho repensado muito sobre isso ultimamente e mesmo reconhecendo a unicidade e beleza de meu canto, tenho analisado friamente como ele poderia me fazer feliz. Penso que fazendo o que já estou fazendo me dará ao menos a satisfação de mais e mais pessoas sentirem-se tocadas com o que produzo. Não penso em parar nunca...mas tb não sei se quero ser um pop star.

(JC)- Na mitologia, sabemos que Fênix é uma ave lendária que renasce das próprias cinzas, tendo a liberdade e a força como uma de suas virtudes. Como você define as suas virtudes?

Fênix - Mais ou menos por aí "fragilidade que é só força". E livre, sem isso não dá. Nunca daria. Não sei fazer só o que os outros querem...sou bom ouvinte, escuto opiniões e etc. Mas é importante para mim falar a verdade qdo eu canto. Lançar a luz sobre temas que não são tão palatáveis. Como Fênix eu renasço sempre. Dou pausas lomgas, volto a cantar...faço as coisas no meu ritmo e obedeço ao meu coração.

(JC)- Quanto tempo você passou em Nova Iorque, e quais as principais lições de vida pessoal e profissional trazidas de lá?

Fênix - NY é uma explosão pop. Vivi lá numa época super bacana. A cidade gozava da liberdade de ter seu presidente "usado sexualmente"pela secretária. Era antes do Bush. Depois do World Trade Center a cidade ficou chata, fascista. sombria. Aprendi muitas coisas em NY. A lidar com dinheiro, horários, cultura pop, o valor da imagem...gosto de ir...mas morar principalmente por causa do inverno, nunca mais.

(JC)- “Um mero acólito da androginia musical de Ney Matogrosso” é como sugerem alguns jornalistas. É possível escapar dessa alusão?

Fênix - Não. Não é possível escapar. Quem me deifiniu assim mesmo ?? rsrsrs O Ney é uma escola, faço parte dela mesmo sem nunca ter bebido diretamente. O considero genial, mas minhas escolhas artísticas e estéticas são diferentes da dele. Temos exatamente a metade da idade um do outro então é natural que sejamos diferentes.

(JC)- Além de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, os quais você se identifica desde a juventude, quais outras influências desencadeiam no seu trabalho?

Fênix - Gonzagão sempre. Jackson menos. Gosto da Lady Gaga, Radiohead, Mariana Aydar, Céu, Rubi, Silvia Machete...e por aí vai. Atualmente muita Lady Gaga (principalmente Ao vivo).

(JC)- Tendo uma “frondosa árvore” como elemento figurativo, como você distribuiria a diversidade de seus estilos musicais? Quais os estilos que compõem as “raízes” e as “múltiplas ramificações”?

Fênix - Bem, venho de Recife que é uma cidade muito ligada em contemporaneidade. Faz parte da inquietude artística da cidade. Amamos estar antenados. Somos saudosistas e nostálgicos mas a minha geração (mangue) tem a intenção de construir de aqui em diante. De pavimentar o nosso, uma nova estória.
A música clássica foi muito forte na minha vida. Mozart, Handel, Gluck, Vivaldi. Depois a música pop : Madonna, Radiohead, Bjork. MPB : Gal, Dalva, Bethânia, Marisa, Caetano. E o meu berço.

(JC)- Além do musical “Os Quatro Carreirinhas”, dirigido por Wolf Maia, quais suas outras principais realizações no teatro?

Fênix - Quatro carreirinhas e "Fênix e Stuart" dirigidos pelo Wolf Maya, "O cão andaluz" dirigido pelo Gerald Thomas e "Vozes de Ouro" dirigido pelo Ney Mattogrosso.

(JC)- Em algum momento pensa em criar ou participar de mais uma montagem cênica musical?

Fênix - Sim. Projetos, projetos...estou terminando de escrever algo para apresentar ao Claudio Botelho e o Charles Moeller.

(JC)- Qual a expectativa de lançamento do seu primeiro disco ao vivo ”Ciranda do Mundo”?

Fênix - Espero que boa. Este Cd foi super bem cuidado. É um resumo de minha trajetória no palco. As pessoas vão adorar. Tem pressão, foi bem gravado, a capa está linda. Enfim.

(JC)- Como você descreve essa primeira experiência de gravar o CD ao vivo?

Fênix - Exaustiva e cara. É muito melhor trabalhar num CD de estúdio como faço agora.

(JC)- Em outras palavras, o que significa o verso “Já sou capaz de cantar as minhas verdades”, verso de Zapping, música autoral de seu primeiro CD?

Fênix - Que faço questão de dizer através de minhas letras quem eu sou e ao que eu vim.

(JC)- No geral, quais as suas considerações sobre o cenário da música pernambucana e baiana?

Fênix - Amo a música pernambucana e seus artistas. Da música baiana só conheço os consagrados. Agora o axé industrial tipo "rebolation" não fazem minha cabeça.

(JC)- Prepara algo para o público baiano?

Fênix - Amo os baianos. Delícia de povo. Se um dia eu for de férias capaz de eu nunca mais voltar. Não vejo a hora de cantar para o público baiano. Como eu disse, delícia de povo.

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